depuração (C. Leonardo B. Antunes)


            às vezes é preciso um tempo mudo
            a fim de depurar o espesso caldo
            dos sentidos, fechar antigos saldos
            antes de abrir-se novamente a tudo.

            às vezes e de novo chega um tempo
            daquilo que não cabe na moldura,
            que se faz e refaz e transfigura
            e encontra em tempo um novo contratempo.

            e às vezes se retorna a uma unidade,
            brevíssimo momento em que o destino
            alinha os astros favoravelmente

            (ou seja lá qual for o desatino
            que explique esse fenômeno indecente,
            tão improvável: a felicidade).

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