Carlos (C. Leonardo B. Antunes)
I
quando eu nasci,
minha mãe chamou-me Carlos:
nome de poeta, ela dizia.
porém,
à exceção de minha avó,
que às vezes me chamava de Meu Carlos
(não Carlos simplesmente nome,
mas Carlos adjetivo,
sinônimo suspeito de tesouro),
em casa sempre fui Leonardo.
II
no primeiro ano do Colégio
– eterno trauma –
a professora fez-nos plaquetinhas,
cada uma com um nome.
peguei a de Leonardo,
que logo me acusou à professora
de ter-lhe arrebatado o nome.
já havia um Leonardo,
comunicou-me a mestra.
então,
pelos próximos dez anos,
seria Carlos.
III
mas na verdade não fui Carlos.
jamais fui Carlos,
nome de poeta:
fui Carlinhos,
nome de sambista ou traficante,
e fui Carlão,
o borracheiro.
mas, nesses dias frios,
inóspitos,
acordando cedo para trabalhar,
às vezes pensativo a mim me digo:
vai, Leonardo,
ser Carlos na vida!
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