a balada de alvino (C. Leonardo B. Antunes)
I
noite longa
lua cheia
hoje alvino
vai morrer
tenso laço em seu pescoço
posto às doze badaladas
do relógio da cidade
onde ele nasceu
todos os moços as moças as velhas os novos infantes os gatos os cães eles
juntam-se todos na praça central onde sobre um barril dependura-se alvino no
meio da noite da rua do mato dos montes sem nome onde um dia houve alguém que lhe
disse hoje alvino você meu rapaz vai morrer
II
só silêncio
na cidade
hoje alvino
vai morrer
fixos todos os olhares
ansiosamente aguardam
o momento em que o carrasco
abra o alçapão
uns os mais velhos já viram por vez ou por outra um rapaz como alvino morrer enfor-
cado no meio rua no meio da vida no meio da noite por isso os mais
jovens escutam atentos falar-lhes de músculos vértebras nervos tendões os que
caso se rompam qualquer um de nós vai morrer
III
morte longa
vida curta
hoje alvino
vai morrer
meia-noite e três minutos
chega finalmente à praça
um senhor vestido em branco
traje oficial
hoje na noite do dia de todas as contas que temos enfim de fazer para
certificarmos que tudo funciona e que todos possamos exceto os mais torpes e os
mais desgraçados viver com bons modos felizes contentes declaro que alvino pen-
dendo com laço ao pescoço por fim vai morrer
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