Heroiká (C. Leonardo B. Antunes)
Onde estiveste,
Filho da estrada,
Ontem à noite,
De madrugada?
Toda a cidade,
Leda e sincera,
Já adormecia,
Como se espera,
Mas, nas calçadas,
Onde se eleva
Desde os bueiros
Fúmida treva,
Sobrespalhou-se –
Hórrida cena! –
Sangue inocente,
Morto sem pena.
Nobre defunto,
Cuja família
Junto do esquife
Sofre a vigília:
Era mais belo –
Muito mais homem –
Do que já foste,
Vulto sem nome.
Como tiveste
Tal ousadia?
"Foi pelas costas
Quando não via."
Foi num só golpe
Que o assassinaste?
"Não, mas um golpe
De minha haste
Foi o bastante
Para tombá-lo,
Torto, e fazê-lo
Meu vão vassalo.
Humildemente
Veio abraçar-me
Meus dois joelhos
Para implorar-me
Por sua vida
Com juramento
De amplo regaste
Por pagamento,
Mas não lhe havia
Escapatória:
Só sua morte
Dava-me glória.
Quanto era belo,
Faço-me agora,
Tendo-o vencido,
Mísero embora,
Pois para sempre
Serei lembrado
Por esse nome
Que me é negado."
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