Aidōs (C. Leonardo B. Antunes)
Aguardo os teus carinhos como quem
Aguarda a flor mais rara florescer:
Num misto de esperança e de terror,
Como se fosse um parto prematuro,
Em que se tanto quer o filho à luz
Quanto guardado à mácula do mundo.
A cada vez que o coração te vence
O tino, e a boca delicada, sem
Saber que mal te faz, esquece o medo,
Teu verbo tímido (com que me entoas
Um sentimento tão mais forte quanto
O esforço por apresentá-lo fraco)
Me faz sofrer alguma coisa incerta
(Talvez a dor que um dia te causaram,
Talvez a dor que um dia a alguém causei)
E logo a minha fonte de palavras,
Melíflua, plena de canções de amor,
Amarga-se-me à boca qual veneno.
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