Théophile Gautier, Tristeza (trad.: C. Leonardo B. Antunes)
Abril faz seu retorno,
A primeira das rosas,
Entreabrindo-se airosa,
Sorri num dia morno.
A terra bem contente
Abre-se e se derrama;
Tudo alegra-se e se ama.
Ah!, tenho no meu peito uma tristeza ardente.
Boêmios, em ventura,
Cantando com cobiça,
Celebram nas treliças
O vinho e a formosura.
A música fremente,
Com riso a ressoar,
Flutua pelo ar.
Ah!, tenho no meu peito uma tristeza ardente.
Em parcas vestes claras,
Donzelas com seus pajens
Passam pelas folhagens
Nos braços que as amparam.
A lua languescente
Argenta-lhe os seus beijos
Sustidos em desejo.
Ah!, tenho no meu peito uma tristeza ardente.
Já eu não amo nada,
Nem homens, nem mulheres,
Minha alma ou meus haveres,
Nem minha própria amada.
Mandai que se cimente
Sob o gramado roto
Um túmulo ignoto.
Ah!, tenho no meu peito uma tristeza ardente.
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