Hino Homérico 7, a Dioniso (trad.: C. Leonardo B. Antunes)


Sobre Dioniso, o nascido de Sêmele, de amplo renome,
Vou me lembrar, como junto das orlas do mar infecundo
Num promontório elevado surgiu feito um jovem varão
Em seu primor. Os seus belos cabelos moviam-lhe em torno,
Negros. Nos ombros robustos vestia uma pele purpúrea.
Eis que então chegam velozes num barco de belas bancadas,
Vindos do mar que refulge qual vinho, piratas tirsenos.
Era um destino ruim que os guiava. Quando eles o viram,
Uns acenaram aos outros e rapidamente saltaram.
Súbito o tomam e põem-no na nau, coração exultante,
Pois pareceu-lhes um filho de reis que por Zeus são nutridos.
Logo, quiseram prendê-lo empregando grilhões aflitivos,
Mas os grilhões não se atinham e os vimes caíam distantes
De suas mãos e dos pés. Ele assim se sentava sorrindo
Com os seus olhos escuros. Tão logo o piloto entendeu,
Rapidamente gritou deste modo com seus companheiros:
"Loucos! Quem é este deus que tomastes assim e prendestes,
Forte qual é? Nem a nau bem formada o pudera levar!
Pois certamente ele é Zeus ou Apolo do arco prateado
Ou Posseidôn. Com um homem mortal ele não se assemelha,
Mas com os deuses, aqueles que têm a morada no Olimpo.
Vamos! Deixai-o descer para a margem escura da terra
Rapidamente! Jamais o toqueis! Que ele não se enfureça
E nos envie aflitivas borrascas e fortes tormentas!"
Disse, mas o capitão censurou-o com fala mordaz:
"Louco, vai ver qual o vento e auxilia a montarem a vela,
Tendo tomado das cordas. Nós homens cuidamos desse outro:
Creio que ele ia ao Egito ou talvez para Chipre ou ainda
Para a Hiperbórea ou mais longe. Mas eventualmente ele irá
Manifestar-se e dizer seus amigos, o sumo das posses
E seus irmãos quem os são, pois um nume o lançou para nós."
Disse e ordenou que montassem o mastro e a vela da nau.
Logo o velame central enfunou-se no vento e estenderam-se
Cordas aos lados. Porém, espantosos eventos seguiram:
Vinho fragrante, primeiro, surgiu no convés da nau negra,
Doce bebida, jorrando e, em seguida, evolou-se um perfume
Feito ambrosia. Os marujos ficaram tomados de espanto.
Súbito ao ponto mais alto da vela esticou-se uma vinha,
Cachos inúmeros de uvas pendendo por todos os lados;
Uma videira enrolou-se ao redor do velame, sombria,
Toda florida, com frutos graciosos crescendo por ela;
E sobre todos os bancos havia guirlandas. Ao vê-lo,
Ao timoneiro de pronto mandavam levar o navio
Próximo à terra, porém sobre a proa do barco o divino
Fez-se em terrível leão, com enorme rugido. No meio
Deles um urso de pelo revolto inda fez que surgisse,
Posto de pé, salivando. O leão sobre a vante os olhava
Terrivelmente e os piratas, temendo, fugiram à popa.
Pondo-se junto ao piloto de mente prudente, pasmados,
Permaneceram até que o leão de repente num salto
Foi sobre o líder. Os outros fugiram de um torpe destino,
Todos, da prancha jogando-se ao mar divinal quando o viram,
Se transformando em delfins. Do piloto ele teve piedade.
Fê-lo de todo feliz ao mantê-lo e dizer-lhe o seguinte:
"Toma coragem, bom homem. Tu tens o favor do meu ânimo.
Sou Dioniso, de grito elevado, nascido de Sêmele,
Filha de Cadmo, quando com Zeus ela uniu-se em amor."
Salve, nascido de Sêmele, belo em semblante! Se alguém
Não se recorda de ti, não adorna uma doce canção!

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