Meu reino (C. Leonardo B. Antunes)
Meu reino se compõe por vinte e cinco
Metros quadrados de concreto antigo,
Tão fino que a privacidade acústica
É coisa inexistente em minha língua.
Na janela, contemplo o mar, que escorre
Das placas de alumínio do telhado,
Vibrando e tilintando com a chuva,
E então se deposita na área interna,
Num fosso de paredes e janelas,
Zona neutra entre a civilização
De Carlos Leonardo e toda sorte
De bárbaros incultos e perversos.
Aqui, na minha torre circunspecta,
Eu reino solitário sobre tomos
Ancestrais, em contínuo culto a Palas
E às nove Musas, filhas de Zeus Pai.
Contudo, quando os astros eternais
Se alinham favoravelmente sob
O véu da noite escura, surge às vezes
Da bruma do horizonte uma princesa,
Que vem me visitar em carro alado,
Vestida com os trajes de Afrodite.
Seus olhos trazem mêmores paisagens
De lagos e florestas e montanhas;
Seus lábios são o mundo e seu inverso,
Abismo e paraíso justapostos,
Promessas de alegrias tão sublimes
Que esbarram nos limites da existência;
E os beijos que Alexandra me concede,
Com todo o ser entregue nesses lábios,
Desfazem os limites do meu reino
E a luta entre o real e o imaginário.
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