Soneto do poema amador (C. Leonardo B. Antunes)


            Eu quero te escrever um poema amador,
            Ridículo e insensato, sem nenhum esmero,
            De versos descabidos, toscos e inausteros,
            Carentes de qualquer sentido norteador;

            Algum poema feito todo de estridor –
            Mas de estridor do mais autêntico e sincero –,
            Dizendo tão somente o quanto que eu te quero
            E terminando por rimar amor com dor.

            Porém o ímpeto poético, que acaso
            Gerando a poíesis me faz ser teu poeta,
            Provém de Erato ou de outra Musa do Parnaso,

            De modo que esta forma fria e circunspecta
            Se torna tanto a causa quanto o próprio ocaso
            Daquilo tudo que sustinha como meta.

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