William Shakespeare, Soneto 29 (trad.: C. Leonardo B. Antunes)


            Quando, excluído da fortuna e dos meus pares,
            Lastimo solitário a minha condição,
            E lanço preces ao desprezo dos altares,
            E olhando para mim maldigo o meu quinhão,
            Querendo ser alguém mais rico de esperança,
            Querido como aquele, àquele assemelhado,
            Dotado de arte alheia e alheia temperança,
            Com tudo que mais gosto mais decepcionado;
            Porém, por esse modo quase me odiando,
            Feliz eu penso em ti, e logo o meu juízo,
            Como uma ave matutina se elevando
            Do pó, entoa hinos junto ao paraíso:
               Teu doce amor lembrado instaura tal riqueza
               Que eu repudio a sorte até da realeza.

Comentários

Postagens mais visitadas