Busônida (C. Leonardo B. Antunes)


Numa cidade que conta com mais de um milhão de habitantes,
Quis o destino me dar tão somente uma dupla de alunos
Para estudar as façanhas do herói itacense, Odisseu.
Fato curioso é que eu tenha corrido, contrário ao costume,
Para tentar alcançar o busão na manhã do outro dia,
E estapeado as metálicas placas da máquina ingente
Como uma súplica ao mais excelente de todos os homens
Que a dirigia naquele inconspícuo momento da vida.
Ele, porém, não me viu – ou me viu e não quis atentar
À condição protegida por Zeus dos divinos pedintes –,
Pois, sem mostrar qualquer dúvida, logo se foi com seu carro.
Grande vexame!, que, claro, tentei desfazer em seguida,
Pondo-me a agir à maneira de alguém exterior ao que houvera,
Como se pela insistência em deixar-me abalar pelo fato
Ele pudesse sumir da memória de todos os homens.
Isso se deu nesta pólis de mais de um milhão de habitantes,
Onde, repito, só tenho uma dupla de nobres alunos.
Claro que um deles estava ali dentro daquele busão.
Claro que tinha de ver-me e contar-me a respeito mais tarde.

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