Neoanacreôntica 2 (C. Leonardo B. Antunes)
Uma cabra saltitava
Nos limites do cercado
Que algum dono cuidadoso
Tinha lhe delimitado.
Não sabia ali sozinha,
Sem pessoa para vê-la,
Que em seus olhos de cabrita
Escondiam-se as estrelas.
Eis que um dia um viajante,
Desprovido de outra via,
Foi passando pela cerca
Da cabrita que eu dizia.
Descuidado o nosso herói
Para o lado então olhou
E a cabrita saltitante
Prontamente vislumbrou.
Vendo o modo com que a cabra
Saltitava graciosa,
Foi sorrindo enquanto andava
E ao acaso lhe deu prosa:
"Cabritinha saltitante,
Por que brincas tão feliz?
Qual o nome que tem dão
Neste pasto teu, nutriz?"
A cabrita respondeu-lhe:
"Que outro modo, meu senhor,
Haveria de brincar?
Quanto ao nome: sou o Amor."
Surpreendido o viajante
Percebeu reclusos astros
Nos olhinhos da cabrita
Sob um manto de alabastro.
Percebeu-os, mas foi tarde
E o Amor não tem perdão:
Num saltinho ele invadiu
Seu incauto coração.
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