Anacreônticas 33 (trad.: C. Leonardo B. Antunes)
Certa vez, no meio da noite,
Chegado o momento em que a Ursa
Já se vira à mão do Boieiro
E todas as tribos dos homens
Se deitam pelo seu cansaço,
O Amor se pôs em frente à minha
Porta e começou a bater.
"Quem bate em minha porta?" eu disse.
"Partiste todos os meus sonhos!"
O Amor então responde: "Abre!
Sou um bebê! Não tenhas medo!
Estou molhado e estou perdido
Em meio à noite sem luar."
Fiquei com pena do que ouvi.
Por isso, acendo um lampião
E abrindo a porta então eu vejo
Um bebezinho com seu arco,
Aljava e asas sobre as costas.
Sentei-o junto da lareira,
A fim de que esquentasse as mãos,
E então sequei o seu cabelo,
Espremendo os cachos molhados.
Quando o frio por fim o soltou,
"Vem!", ele disse. "Vem testar
Meu arco para ver se a corda
Acaso se estragou na chuva!"
Armou a flecha e me acertou
No meio do meu coração.
Depois, pulando e rindo, disse:
"Amigo, alegra-te comigo!
Meu arco está ileso, mas
Teu coração irá doer!"
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