Sólon Fr. 13 (trad.: C. Leonardo B. Antunes)
Filhas de Zeus, esplendentes, do Olímpico unido à Memória,
Musas Piérias, a vós, peço que ouçais minha prece:
Dai-me, na graça dos deuses ditosos, a prosperidade,
Bem como, dentre os mortais, sempre ter fama impecável;
Ser agradável aos amigos e amargo pros meus inimigos;
Ser agradável aos amigos e amargo pros meus inimigos;
Ter o respeito de uns, bem como o medo de outros.
Tenho um anseio por posses, mas tê-las por meios injustos
Eu não desejo, pois vem, sempre, a justiça mais tarde.
Quando a riqueza é provinda dos deuses perdura entre os homens,
Pois é tão firme no chão, quanto em seu ponto mais alto.
Mas, quando os homens a honram soberbos, contrário ao devido,
Ela terá de lhes vir, uma atendente sem zelo
Que se suadiu na injustiça e não tarda a mesclar-se à ruína –
Como uma chama ao nascer, mostra-se apenas pequena.
Ela é banal no começo, mas torna-se grave no fim.
Feitos soberbos jamais hão de durar pros mortais –
Zeus faz exame de todos os fins. Quando menos se espera,
O mesmo vento que faz, rápido, as nuvens se abrirem
Na primavera, também faz o fundo do mar infecundo,
Plurionduloso, mover; traz para os campos de trigo
Devastação sobre a terra e alcança o assento dos deuses
Alto no céu e, depois, logo se vê um bom tempo:
Brilho da força do sol na beleza da terra fecunda.
Já não se pode mais ver nenhuma nuvem sequer.
Esta é a paga de Zeus. Diferente de um homem mortal,
Ele não vai se irritar, rápido, a torto e a direito,
Mas não escapa do seu escrutínio alguém impiedoso
Em seu espírito: ao fim, ele há de ser revelado.
Um logo paga; algum outro, mais tarde; mas mesmo ao que foge,
Não se deixando tomar pelo quinhão que lhe cabe,
Vem novamente essa dívida e pagam por ela inocentes:
Seus próprios filhos, talvez a geração posterior.
Desta maneira os mortais, tanto os bons quanto os ruins, nós pensamos
Que progredimos nos fins que cada um tem pra si,
'Té que se sofra. Daí vem o choro. Mas antes nós somos
Ávidos por ter prazer com qualquer vã esperança.
Um que padece por conta de dura doença acredita
Que logo mais fica são – fato que a todos declara.
Outro, um ser vil, acredita que é um homem dos mais elevados;
Belo apesar de não ter graça nenhuma em sua forma.
Quando um sujeito carece de meios e sofre a pobreza,
Acha que logo terá muito dinheiro decerto.
Temos desejos diversos. Enquanto um homem vagueia
Com o seu barco no mar pleno de peixes, buscando
Lucro que leve pro lar – assolado por ventos cruéis,
Dele é um desleixo total em relação à sua vida –,
Outro, munido de arado recurvo, faz sulcos na terra
Pluriarborada, tal qual fosse ele escravo o ano inteiro.
Outro, sabendo fazer os trabalhos de Atena e de Hefesto,
Deus de incontável lavor, tem seu sustento nas mãos.
Outro faz isso aprendendo os presentes das Musas Olímpias
E conhecendo os padrões desse adorável saber.
Outrem, Apolo, o senhor que trabalha de longe, fez vate:
Sabe prever quando um mal vem a caminho de um homem –
Se o acompanham os deuses. Porém o que está destinado
Nem com augúrio e nem com sacrifícios se evita.
Outros se dão ao lavor de Peã com seus muitos remédios:
Médicos. Eles também não têm qualquer garantia:
Frequentemente da mínima dor vem a enorme agonia
Sem que se possa encontrar fármaco algum que a alivie,
Mesmo que a outro, assolado por todos os males de enfermo,
Ele consiga curar com um só toque da mão.
Para os mortais o Quinhão traz o bem e também o ruim;
Dos dons de um deus imortal, não se consegue fugir.
Risco se encontra em todos os atos e não há quem saiba
Como será o final, quando uma coisa começa.
O homem que tenta agir bem cai em enorme e difícil ruína
Sem que ele possa saber antes o que há de lhe vir.
Por outro lado a um homem relapso o deus dá sucesso
Em tudo aquilo que faz, para salvá-lo à imprudência.
O limiar da fortuna não é aparente pros homens,
Visto que agora quem tem mais do que os outros na vida
Dobra seu esforço inda mais. O que iria bastar para todos?
Lucro, sim, os imortais dão para os homens mortais.
Dele, porém, aparece a ruína pra um e pra outro,
Em alternância, que Zeus manda, cobrando sua dívida.
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