Dístico Elegíaco
(trecho do livro Ritmo e Sonoridade na Poesia Grega Antiga: Uma tradução comentada de 23 poemas)
Segundo West, “Por elegia , denota-se uma tradição poética , em metro elegíaco , na qual o poeta discursa por meio de sua própria pessoa , geralmente dirigido a um interlocutor específico e no contexto de uma ocasião particular de interação .”[1] A elegia se prestava, em geral , a uma meditação do poeta a respeito de um determinado assunto , o qual era de interesse do público por fazer parte das questões caras ao pensamento da época . Para esse fim , o ritmo dactílico empregado era extremamente eficaz , criando um andamento sereno e quase marcial .[2]
De acordo com Dihle, no entanto , o termo “elegia ” não é de origem grega , sendo que , até o período clássico , palavras que lhe eram etimologicamente relacionadas ainda pertenciam ao vocabulário do lamento fúnebre , “œlegoj”. Por conta disso, imagina-se que , talvez , a elegia tenha tido como ocasião de performance e objeto de composição inicial os ritos funerários. Essa teoria se mostra possível pela existência de um fragmento como o de número 13 de Arquíloco, em que o poeta lamenta a morte de homens em um naufrágio .[3]
Quanto à sua estrutura formal, o dístico elegíaco é constituído pela sequência de um verso composto em hexâmetro dactílico e outro verso criado a partir de dois hemistíquios deste mesmo metro justapostos, os quais muitas vezes são chamados, sem grande precisão , de pentâmetro apenas por conveniência e praticidade.
O hexâmetro dactílico, como o próprio nome indica, estrutura-se por meio de seis pés de dáctilos, podendo haver contração nos cinco primeiros pés , cujo último é necessariamente catalético, ou seja, termina incompleto , com um troqueu ou com um espondeu.
O hexâmetro é o metro com o qual se compuseram os poemas da épica grega . Por conta disso, os poemas mais antigos que também o empregam, seja em sua totalidade ou parcialmente , à maneira do dístico elegíaco , acabam por emprestar as fórmulas da épica em sua composição . Esse fato é facilmente observável, por exemplo , em alguns poemas de Arquíloco e Tirteu.
l y l y l w \ w l y l y l x U
l y l y l \ y l y l y l x U
l w w l w w l | w w l w w l w w l l
œk / ne / fš / lhj / pš / le / tai | ci / Ò / noj / mš / noj / º / d¢ / ca / l£ / zhj,
Há sempre uma cesura necessária no hexâmetro dactílico grego , a qual se estabelece após a primeira sílaba do terceiro pé , como no exemplo acima , ou após a segunda , como é mais comum , na proporção 4:3.[4] Optou-se por traduzir esse primeiro verso do dístico elegíaco na forma de um hexâmetro dactílico sem cesura mandatória, como o empregado , também em língua portuguesa, por Carlos Alberto Nunes em suas traduções da Ilíada e da Odisseia. Em alguns casos , poderá estar presente a cesura , mas preferiu-se optar por uma maior flexibilidade, não adotando a cesura obrigatória . Pelo mesmo motivo , o último verso dos hexâmetros, na tradução , nem sempre será catalético.
Deixando, por enquanto , o hexâmetro de lado , observemos agora a estrutura padrão de seu pentâmetro:
l y l y l | l w w l w w l U
Continuando no verso seguinte do mesmo poema de Sólon, vejamos a escansão de um pentâmetro, onde se podem perceber , nos dois primeiros pés , exemplos de contração :
l f l f l | l w w l w w l
bron / t¾ / d' ™k / lam / prÁj | g…g / ne / tai / ¢s / te / ro / pÁj:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
1 2 3 4 5 6 7 | 8 9 10 11 12 13 14
Bra / me o / tro / vão / ao / nas / cer, | vin / do / de um / rai / o / bril / lhan / te.
Pode-se ver a cesura cortando o segundo verso no final do vocábulo “nascer”. Sempre que possível e relevante, como no caso acima, tentou-se colocar uma vírgula para marcar a pausa da cesura entre os dois hemistíquios.
Na tradução dos pentâmetros do dístico elegíaco nesta versão atual, foram utilizadas apenas cesuras naturais , aquelas em que o vocábulo que corta o verso é oxítono, apesar de num momento anterior do trabalho também haverem figurado cesuras induzidas pela utilização da sinalefa.[5]
Bibliografia Citada
CROISET, Alfred. Histoire de la Littérature Grecque. Paris: Libraire des Écoles Françaises d’Athènes et de Rome, 1890.
DIHLE, Albrecht. A History of Greek Literature. London and New York: Routledge, 1994.
WEST, M. L. Introduction to Greek Metre. Oxford: Clarendon Press, 1987.
______. Studies in Greek Elegy and Iambus. Berlin, 1974.
[1] West (1974: 2).
[2] “Os ritmos do gênero constante, dáctilos e anapestos, dão ao ouvido e ao espírito um sentimento de um equilíbrio particularmente agradável: neles, o andamento era regular e harmonioso.” Croiset (1890: 2 ).
[3] Dihle (1994: 33).
[4] West (1987: 19).
[5] “No alexandrino clássico, por exemplo, deve o primeiro hemistíquio terminar em sílaba forte, e o segundo hemistíquio até a 12ª do verso conter o mesmo número de sílabas que o primeiro. Logo, se vier no centro vocábulo paroxítono finalizado em vogal em face de vogal inicial de palavra imediata, a cesura cortará tal vocábulo, deixando de uma parte a sílaba acentuada, e de outra a restante inacentuada, ligando-se esta a vocábulo do segundo hemistíquio.” Ali (2006: 43).
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